Alguns acontecimentos na minha vida fizeram-me chegar até aqui – até esta questão. O que pensar quando poeta e poesia são dois gumes da mesma faca?
E o que é a poesia? Um olhar resultante de um modo diferente entender o mundo em que vivemos e o universo a que pertencemos ou apenas episódios “diarreicos” de versos? Não se pretende, com esse olhar sobre o mundo, desenhar caminhos para uma humanidade e um planeta mais felizes?
O que fazer quando percebemos que um poeta escreve uma coisa e vive outra? Estaremos perante um papel hollywoodesco que merece o ambicionado “oscar”, sempre que escreve poesia? Ou será somente o poeta um enganador, um mentiroso, um fingidor?
Esta é a questão que não abrange todos os criadores. Só alguns a quem tive a infelicidade de conhecer e perceber que se arrastam numa frequência energética lamacenta que os consome e os fazem consumir os demais. Predadores mais ou menos camuflados à espera da presa para abrir a boca apanhando-a desprevenida.
De novo a questão: não será a poesia uma filosofia diferente de vida? Uma forma diferente de senti-la e processá-la? Não devemos ser coerentes com aquilo que escrevemos e viver isso mesmo? Não estarão palavra e a vida atadas por fios finos de coerência? Será o poeta apenas o fantoche que representa um papel enquanto escreve?
O que fazer quando se conhece obra e poeta? Em quem devemos depositar a nossa fé? Na poesia? No poeta? Ler a obra e fugir do autor? Em nenhum?
Num mundo dual onde quase ninguém é o que parece, está também (ou sempre esteve) a poesia contaminada de falsidade?
Como já disse esta questão não abrange todos os poetas. E ainda bem. Mas, não fazem os poetas duais, com que a poesia seja vítima de desconfiança e indiferença?
Depois de todas estas questões, posso acrescentar que há poetas que são verdadeiros, fiéis no que pensam, sentem e vivem. Também conheci destes. E são estes que nos fazem acreditar num mundo melhor. São estes que escrevem, vivem e sentem e fazem um mundo melhor.
São estes que eu celebro enquanto pessoas, enquanto poetas, enquanto seres humanos. E desejo que o mundo se encha de poetas. Daqueles que escrevem e sentem verdadeiramente, daqueles que leem e sentem. (O leitor é também um poeta na sua forma de sentir a poesia.) Porque os há de muitas naturezas. Mas quero centrar-me apenas naqueles que fazem, em todos os aspetos, a diferença. Bem hajam, por isso!